Mulheres que um dia amamos - 4
Mônica
A primeira vez em que vi Mônica foi em um Enecom, em Curitiba, 1991, um dos mais junkies de todos os Enecoms. Apesar do clima de baderna generalizada, entrei em uma espécie de oficina de textos cujo objetivo se tornou, de uma hora para outra, produzir um jornal para distribuir entre os participantes. Quem coordenava as ações era um cara, um grande escritor, ainda estudante, chamado Gilmar Piolla, hoje um dos feras do No em Brasília.
Ninguém sabe o que Mônica foi fazer na tal oficina. Ela, estudante de Relações Públicas da UNESP de Bauru, rindo até de fratura exposta, como sempre foi o seu jeito. Logo eu, ela e Iluska, uma grande figura de Vitória, nos entrosamos. Horas depois eu via Mônica fugindo pelos cantos com um cara meio hippie, de chapéu esquisito, enfim, bebia meu conhaque e parecia não me importar. Tinha outros estresses para administrar, como minha relação tumultuada com Ana, que também estava por lá.
No entanto, eu, ela e Marcelo, colega de turma, nos tornamos grandes correspondentes, trocando cartas quase apaixonadas. Gozado, ela parecia estar apaixonada pelos dois. Talvez estivesse.
Um dia, ela veio de Bauru, e não sabia onde ficar. No último minuto, decidiu ficar na minha casa.
A história é bobinha, pára meio que por aqui, mas continua no infinito. Hoje, Mônica largou a Comunicação Social e é uma feliz dentista em Bauru. Já tem duas belas filhas, ao lado de seu amado Joaquim. Mas volta e meia manda emails, dizendo todo o amor que tem por mim, pela nossa história, que ela sabe que pertence a uma dimensão temporal que eu reluto em chamar de passado - ou de futuro.
E eu sempre brindo a ela no dia 23 de agosto, que muitas vezes eu confundi com o 17. E me lembro de eu e ela em Bauru, correndo em uma Brasília, ela dirigindo ensandecidamente, às gargalhadas, eu ao lado com uma garrafa de alguma coisa, bebendo para no dia seguinte sequer conseguir me levantar.
Um dia, ela foi visitar os pais, e me deixou lá dormindo, trancado depois de um porre de cachaça de alambique.
Até hoje estou procurando a chave.
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