26 novembro, 2001

Um dia, uma ressaca
Amanhecera e a cabeça de Maria não parava de doer. Passara a noite em claro. Deitara-se na sua cama improvisada no chão frio da sala e escutara o barulho do temporal durante um longo tempo. Seus amigos deveriam estar na festa, mas chovia tanto, ela pensou. Não queria estar com eles. Tomara duas aspirinas, bebera muita água, e nada. Enquanto a testa latejava de dor, o sono tentava dominar-lhe. Estava com olheiras profundas, meio desleixada, cabelos sujos. Apática, não queria dormir. “Tenho medo de pesadelos”, e levantou-se. Choramingou baixinho na janela para não acordar os irmãos e a mãe. Fechou os olhos e tudo o que sentia era um cheiro de terra molhada nas narinas. O dia amanhecera bonito, azul, mas faltava alguém. Sentiu-se estranha e viva. Ela não bebera uma gota de álcool no dia anterior, mas chorar de saudade foi a pior ressaca da sua vida.