16 novembro, 2001

Ruídos

Meu apartamento é silencioso e frio. Ás vezes deixa-me úmida. Para “secar-me”, calada, ouço música e escrevo. Só porque o silêncio é bom. Preciso inventar que o barulho me satisfaz. Procuro ruídos. Mas não há. Nem na música perfeita que escuto, nem no tecl-tecl desse computador. Não há ruídos.
Aceleraram um carro na rua. Ouviram? Já partiu. Meus ruídos são pedaços de tudo o que ainda não disse, de frases inteiras ronronando em mim, perdidas em papéis recortados que tento juntar e jamais consigo, porque não estão presentes em nada disso que agora escrevo. Dizer pode ser não dizer. Estarei dizendo quando estiver calada, escutando meus próprios ruídos, de tudo o que não quis dizer.Quero não escutar meus próprios ruídos. À medida que escrevo eles diminuem.