22 setembro, 2004

Só para esclarecer - E alguns elogios merecidos

Recebi alguns emails de amigos reclamando que o sistema de comentários está parado - uma porrada de gente queria contestar a lista de 100 melhores LPs que eu fiz com Cascalho Ventura, claro. A maioria reclamando da falta do Never Mind The Bollock´s, do Sex Pistols. Mas esclareço: retirei o sistema de comments por causa de um rapaz que aqui entrou ofendendo minha sobrinha Luiza. Me xingou de tudo quanto é jeito também, mas ele não sabe que isso já é comum aqui nesse espaço. Só que xingar uma recém-nascida é algo que realmente me preocupou e assustou. Quem tem capacidade para xingar um recém-nascido?
Por tudo isso, solicitei informalmente uma investigação, e fui plenamente atendido. Essa é uma polícia que investiga e que funciona, não posso deixar de elogiar. Fontes minhas ligadas à Delegacia de Crimes de Informática da Polícia Civil revelaram, com rapidez, que os posts ofensivos foram colocados a partir de servidores de internet da Universidade Federal do Rio de Janeiro, mais precisamente de uma das bibliotecas da Ufrj. Assim, o problema passaria para a alçada da Polícia Federal. Por sorte, retomei meus contatos na instituição, e já solicitei uma sondagem, também informal. Assim que o rapaz, que se identificou como "Maromba" (existiu um Maromba na Urca, mas algumas das coisas que o cara escreveu me deram a certeza de que não é o mesmo), for devidamente identificado. A PF deve fazer um contato, também informal, com a Ufrj. Por enquanto, a rapaziada pode comentar tudo com meu email profissional, que é gustavo.almeida, seguido do arroba, e mais o nome do jornal onde trabalho (JB) com Com e Br.
Em breve, portanto, voltam os comments, assim que fizermos um acordo de não agressão a recém-nascidos...

A lista dos 100

Bastou a Playboy, recentemente, fazer uma lista de não sei quantos "melhores discos da história do rock" - uns dizem que foi 100, outros dizem que foi 40 - que logo um quarteto de malucos, todos putos com o fato de a revista ter incluído quatro discos da superdimensionada banda The Clash, rascunhou uma centena. E foi num fôlego só, bebendo cerveja, discutindo cada tópico. A operação toda levou uns quarenta e cinco minutos da quarta-feira da semana passada, como nos conta agora Cascalho Ventura:


"OS 100 MELHORES DISCOS DE ROCK’N ROLL DA HISTÓRIA

Ou uma tentativa embriagada de corrigir a extremamente homossexual lista da Playboy
Obs.: A ordem de apresentação dos álbuns não tem relação alguma com critério de qualidade. Os títulos estão apresentador por ordem alfabética dos artistas.

1) Live at Filmore East – The Allman Brothers Band

2) The Last Waltz – The Band

3) The Band – The Band

4) White Album – The Beatles

5) Help – The Beatles

6) Revolver – The Beatles

7) Abbey Road – The Beatles

8) Beck, Bogert & Appice – Beck, Bogert & Appice

9) Cheap Thrills – Big Brother & Holding Company

10) Black Sabath – Black Sabath

11) Blind Faith – Blind Faith

12) Desire – Bob Dylan

13) Highway 61 Revisited – Bob Dylan

14) The Byrds – The Byrds

15) Disraeli Gears – Cream

16) Live Cream II – Cream

17) Deja Vu – Crosby, Stills, Nash & Young

18) Wooden Ships – Crosby, Stills & Nash

19) Ziggy Stardust – David Bowie

20) Space Odity – David Bowie

21) Machine Head – Deep Purple

22) Layla and Other Assorted Love Songs – Derek & The Dominos

23) Alchemy – Dire Straits

24) Rockin’ Down The Highway – Doobie Brothers

25) The Doors – The Doors

26) Morrison Hotel – The Doors

27) L.A. Woman – The Doors

28) From Elvis to Memphis – Elvis Presley

29) Elvis 68 – Elvis Presley

30) A Nod is So Good as a Wink... – Faces

31) Tons of Sobs – Free

32) Foxtrot – Genesis

33) Nursery Cryme – Genesis

34) All Things Must Pass – George Harrison

35) Extratexture – George Harrison

36) Grand Funk / E Pluribus Funk – Grand Funk Railroad

37) Survival – Grand Funk Railroad

38) American Beauty – Grateful Dead

39) American Woman – Guess Who

40) Whisky a Go-Go – Humble Pie

41) Kozmic Blues – Janis Joplin

42) Truth – Jeff Beck

43) Pizza Tapes – Jerry Garcia

44) Live at The Star Club – Jerry Lee Lewis

45) Benefit – Jethro Tull

46) Are You Experienced? – Jimi Hendrix

47) Electric Ladyland – Jimi Hendrix

48) Band of Gipsy – Jimi Hendrix

49) Axis: Bold as Love – Jimi Hendrix

50) Mad Dogs & Englishmen – Joe Cocker

51) Joe Cocker – Joe Cocker

52) Imagine – John Lennon

53) Rock and Roll – John Lennon

54) Captured Live – Johnny Winter

55) Still Alive and Well – Johnny Winter

56) Arthur – Kinks

57) Led Zeppellin – Led Zeppelin

58) Led Zeppellin II – Led Zeppelin

59) Transformer – Lou Reed

60) Rock ‘n Roll Animal – Lou Reed

61) Lynyrd Skynyrd – Lynyrd Skynyrd

62) Free Bird – Lynyrd Skynyrd

63) Harvest – Neil Young

64) Live Rust – Neil Young

65) Nevermind – Nirvana

66) Band on The Run – Paul McCartney & Wings

67) Run Devil Run – Paul McCartney & Wings

68) Empty Glass – Pete Towsend

69) Dark Side of The Moon – Pink Floyd

70) The Wall – Pink Floyd

71) A Night at The Opera – Queen

72) Queen Live Killer – Queen

73) Exile on Main St. – Rolling Stones

74) Sticky Fingers – Rolling Stones

75) Get Yer Ya Ya´s Out! – Rolling Stones

76) Beggars Banquet – Rolling Stones

77) Tatoo You – Rolling Stones

78) Some Girls – Rolling Stones

79) Photo Finish – Rory Gallagher

80) Irish Tour – Rory Gallagher

81) Against The Grain – Rory Gallagher

82) Rock and Roll – Rory Gallagher

83) Abraxas – Santana

84) Santana III – Santana

85) Caravanserai – Santana

86) Live in Central Park – Simon & Grafunkel

87) Steppenwolf – Steppenwolf

88) Live – Steppenwolf

89) Texas Flood – Stevie Ray Vaughan

90) Undead – Ten Years After

91) Space and Time – Ten Years After

92) The Low Spark of High Heeled Boys – Traffic

93) Live in San Francisco – Van Morrison

94) Why Dontcha – West, Bruce & Laing

95) Argus – Wishbone Ash

96) Hot Ash – Wishbone Ash

97) Who’s Next – The Who

98) Tommy – The Who

99) A quick One – The Who

100) Sell Out – The Who


Detalhe: de sacanagem, eu, Gustavo, tinha colocado "Thriller", do Michael Jackson, no número 100. Mas era brincadeira - até acho um disco razoável, mas nem que eu estivesse maluco por causa de anabolizante ou coisa assim eu toparia uma dessas.


14 setembro, 2004

E como flutua

Tudo o que se pode escrever, ao que parece, já foi escrito. Sim, sobre a vida que se perpetua, sobre o legado de nossa carne e de nosso coração, sobre o ter filhos, se não tê-los, como sabê-los. Eu ainda não o sei, mas Deus abriu uma porta para que eu pudesse ver, por uma frestinha, o gigantesco abismo, a sensação de uma vida nova surgindo em todas nossas vidas. Por um instante, tudo flutua. É Luiza, que chegou no dia 11 de setembro, que para mim deixa de ser um aniversário de um ato idiota e passa a ser uma data quase sagrada, um Natal antecipado, uma festa de ouro, incenso e mirra. E sei lá o que é mirra.
Deus me abriu uma porta para que eu pudesse ver por uma fresta, e o nome dessa porta é Luiza. Pequena, indefesa, delicada, Luiza dorme umas 20 horas por dia. Veio ao mundo neste sábado. Mais do que nunca, Luiza me mostra a gigantesca responsabilidade do gesto de ter filhos, e de certo modo me prepara para tal. "Cardíaco não deve acompanhar o parto", disse meu irmão. Cardíaco, na verdade, não pode nem ver o quanto é forte uma vida que nasce. É loucura, isso: tem uma pessoa nova entre nós, que tem a mesma importância que nós mesmos - não é alguém que veio de longe, com outras lembranças, manias ou aprendizados. É simplesmente uma pessoa nova. É Luiza.
Quando ela se aproximou do vidro que separava a sala de espera do berçário, ainda nos braços do médico, sim, ainda coberta por líquidos, cansada como a mãe, chorando como o pai, com um rosto que mal se via, sim, naquele momento eu sabia que estava vivendo o infinito para dentro do relógio - como se o ponteiro em vez de ir para a direita de quem vê fosse para dentro do relógio, girando eternamente em direção nenhuma. Era a primeira vez de muitas em que eu vou encontrar Luiza, e ela certamente não se lembrará disso nunca.


É impossível não repetir o lugar-comum: Luiza é a perpetuação da vida, a marca de um tempo novo, um divisor de águas. Assim é essa minha sobrinha, força da natureza que flutua por tudo que é sempre, que paira sobre tudo que é nunca, que me deu um momento tão único quanto uma despedida mas repleto de vida tal e qual um reencontro.